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Política

“Ao desfazer essa homenagem, os vereadores não pensaram que, por trás do nome de Washington, existe uma família enlutada”, diz Virgínia Novaes

Em artigo, a viúva de Washington Novaes, um dos mais importantes nomes do jornalismo ambiental, que morreu no ano passado, fala da crueldade que representou a atitude da Câmara Municipal de Goiânia ao aprovar projeto do vereador Clécio Alves (MDB) e retirar a homenagem ao marido, feita no fim do ano passado pelo então prefeito Iris Rezende, que deu o nome de Washington a um parque ambiental no Conjunto Vera Cruz II

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Em artigo publicado hoje no Jornal O Popular, Virgínia Novaes, viúva do jornalista, escritor e ambientalista Washington Novaes, que morreu no ano passado em Goiânia, fala da tristeza e da dor da família com a atitude da Câmara Municipal de Goiânia, que aprovou projeto do vereador Clécio Alves (MDB) e, na prática, retirou a homenagem dada ao marido no final do ano passado pelo então prefeito Iris Rezende.

No dia 29 de dezembro, Iris Rezende inaugurou o parque ambiental construído no Conjunto Vera Cruz II, na região Oeste de Goiânia, e a ele deu o nome de Parque Municipal Grande Vera Cruz Jornalista Washington Novaes, em homenagem ao jornalista que tem uma história de luta em defesa do meio ambiente reconhecido no mundo inteiro.

Na semana que passou, no entanto, a Câmara aprovou projeto do vereador Clécio Alves, mudando a denominação do parque para homenagear um antigo morador do bairro. “Ao desfazer essa homenagem, os vereadores não pensaram que, por trás do nome de Washington, existe uma família enlutada”, lembra Virgínia.

“Num gesto como esse, que parece pequeno, dimensiona-se o tamanho da desumanidade que assola o país. Milhares de famílias enlutadas, como nós, milhares passando fome, e os políticos tomando decisões absolutamente desconectadas dessa realidade”, pontuou a mulher que viveu 50 anos ao lado de Washington Novaes.

Leia a íntegra do artigo de Virgínia Novaes

Um gesto inexplicável

Antes de qualquer palavra, transcrevo uma oração criada pelo ambientalista paranaense Cícero Bley, lembrando que quem ora está pedindo.
 
“Olhe natureza por seus filhos mais sensíveis. Olhe por esse que do ofício de captar as coisas do mundo, cresceu frente a elas e seus dramas. Passou a representar uma referência para os demais, fazendo caminhos pela coletividade confusa, sem rumo. Olhe natureza, por esse que de tanto fazer notícias virou tantas. Olhe natureza por seu filho que tem na ética a causa e o efeito da própria existência e por ela mergulha nos lugares ocultos onde se esconde o que não se quer ver ali, despojado, armado com uma pena, peleia à exaustão. Transfira Natureza, um pouco da energia vital da brotação do pé de pequi, para que possa se consolidar da maneira possível, o tratado para ser relacionado, essencialidade da obra do guardião do cerrado, Washington Novaes.”
 
Gostaria de estender essa oração pedindo à natureza que derrame um pouco de sua delicadeza e generosidade no coração de nossos políticos. 
 
Nesta semana, a Câmara Municipal de Goiânia aprovou projeto de lei que desfaz a homenagem ao falecido jornalista Washington Novaes, meu marido, feita pelo ex-prefeito Iris Rezende, que batizara, com seu nome, um parque no Conjunto Vera Cruz, em Goiânia.
 
Ao desfazer essa homenagem, os vereadores não pensaram que, por trás do nome de Washington, existe uma família enlutada. 
Num gesto como esse, que parece pequeno, dimensiona-se o tamanho da desumanidade que assola o país. Milhares de famílias enlutadas, como nós, milhares passando fome, e os políticos tomando decisões absolutamente desconectadas dessa realidade.
A dor virou regra. A solidão não está apenas na perda de entes queridos, mas também e principalmente no abandono que sentimos das chamadas autoridades.
 
Os brasileiros estão entregues à própria sorte, milhares, além de chorar, precisam ir à luta pela sobrevivência – e minha família à luta para que um ato insensível não manche a memória de uma pessoa ética e humana como Washington.
 
Washington escolheu tornar Goiânia sua casa. Seu coração se tornara goiano. Para me agradar, ele dizia que era por culpa minha. Sou goiana e, nesta hora, sinto vergonha diante do meu amor. Nosso casamento de 50 anos viveu mais da metade aqui em Goiânia, onde nasceram alguns dos netos, que não conseguem entender essa história de retirar a homenagem ao avô. É um gesto impossível de se explicar, sobretudo para as crianças.
Virgínia Novaes

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